Carlo Ancelotti é aposta da CBF para ajeitar seleção no fim de ciclo caótico


Escolhido por presidente contestado na Justiça, treinador italiano multicampeão assume Brasil a um ano da Copa do Mundo e na 4ª colocação nas Eliminatórias

13 May 2025 - Folha de S. Paulo
Bruno Lucca, Fábio Haddad, Gabriel Vaquer, Josué Seixas, Luciano Trindade e Marcos Guedes

O presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ednaldo Rodrigues, conseguiu na segunda (12) o que buscava havia mais de dois anos. Anunciou Carlo Ancelotti, 65, como técnico da seleção brasileira, com contrato até a Copa de 2026.Oscar del Pozo - 10.mai.25/afpCarlo Ancelotti, do Real Madrid, um dia antes de perder do Barcelona (4 a 3)

O italiano tem pouco mais de um ano para dar um rumo ao time, à deriva desde o último Mundial. Entre interinos e quase interinos, três treinadores comandaram a equipe nos últimos 29 meses, período no qual Ednaldo brigou para proteger o próprio cargo. E esperou Ancelotti.

“Trazer Carlo Ancelotti para comandar o Brasil é mais do que um movimento estratégico. É uma declaração ao mundo de que estamos determinados a recuperar o lugar mais alto do pódio. Ele é o maior técnico da história e, agora, está à frente da maior seleção do planeta”, declarou o dirigente.

Ednaldo se referiu ao italiano como “um estrategista que transforma equipes em lendas”. Parece mesmo necessário um profissional de talento para estabelecer coesão na seleção que acumula problemas, conduzida por uma confederação que faz o mesmo.

O próprio processo de contratação de Ancelotti é ilustrativo. Após a Copa de 2022, Rodrigues deixou o time nacional sob comando provisório de Ramon Menezes e depois Fernando Diniz, assegurando ter acerto com Carlo, que assumiria na metade de 2024. Mas o presidente foi afastado da CBF pela Justiça, em dezembro de 2023, por questionamentos à validade de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) que permitira sua eleição, em 2022. Em 2021, ele havia assumido interinamente o posto do presidente Rogério Caboclo.

Rodrigues foi reconduzido ao cargo, em janeiro de 2024, por decisão do ministro do STF Gilmar Mendes. Porém, àquela altura, diante da indefinição na CBF, Ancelotti renovou contrato com o Real Madrid até a metade de 2026.

A solução da CBF foi apostar em Dorival Júnior, que vinha de bons resultados no Flamengo e no São Paulo. Esses resultados não se repetiram na seleção, que tem aproveitamento de só 50% nas Eliminatórias para a Copa.

Dorival se despediu em uma trágica derrota por 4 a 1 para a Argentina, e Ednaldo enxergou nova janela de oportunidade com Ancelotti, em crise no Real Madrid. O clube estava disposto a dar adeus ao velho comandante, de olho no jovem Xabi Alonso, e topou negociar uma rescisão.

“Quero aproveitar este momento para registrar meus agradecimentos ao presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, e a José Ángel [Sánchez Periáñez, diretor-geral do clube], por toda a compreensão, pelo diálogo, pelo apoio, que tornaram possível esta transação”, disse Rodrigues.

Pérez não tinha, até a conclusão desta edição, respondido publicamente. O anúncio foi feito só pela CBF, sem manifestações oficiais de Real Madrid e de Ancelotti. A expectativa é que o treinador conceda uma entrevista nesta terça (13) e dirija o time branco nas três rodadas finais do Espanhol.

Havia pressa por parte de Ednaldo em fazer a divulgação da contratação. Ele queria deixar em segundo plano a convocação para comparecer na tarde de segunda a uma audiência no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em processo que pode novamente afastá-lo da presidência.

Eleito em março para novo mandato, Rodrigues está no poder com uma liminar que será avaliada pelo plenário do STF no próximo dia 28. Mais um motivo para pressa, não bastassem os compromissos da própria seleção nas Eliminatórias. A equipe está na quarta posição, com 21 pontos —a mesma pontuação da sexta colocada, Colômbia. A quatro rodadas do fim, é de seis pontos a vantagem sobre a sétima, a Venezuela. Seis sul-americanos vão direto à inchada Copa de 2026, com 48 seleções. A sétima joga uma repescagem.

Classificar o Brasil ao Mundial não é o motivo pelo qual Ancelotti receberá R$ 5 milhões por mês, com moradia no Rio de Janeiro bancada pela CBF. O objetivo é fazer uma grande Copa, com bônus previsto de 5 milhões de euros (R$ 31,5 milhões) em caso de título. Currículo não falta ao quarto estrangeiro a comandar a seleção, o primeiro de maneira permanente. Para ficar nos itens que mais chamam a atenção, só ele tem cinco títulos da Champions League como treinador, e só ele foi campeão em cada uma das principais cinco ligas nacionais europeias.

“O Brasil, com sua tradição única, e Ancelotti, com sua visão revolucionária, formarão uma parceria que vai entrar para a história”, disse Ednaldo, na esperança de que o ciclo caótico terá um final feliz —como em 1958, 1970 e 2002, quando os técnicos campeões também assumiram a equipe em cima da hora.

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Italiano foi de jogador de equipes históricas a técnico acostumado a lidar com astros do futebol

13 May 2025 - Folha de S.Paulo
André Fontenelle

“Habemus campionem”. Assim a revista esportiva italiana Guerin Sportivo definia, em 1983, um jovem de 23 anos que voltava aos campos, após grave lesão no joelho que o impediu de ser campeão mundial na Copa de 1982. Foi uma das voltas por cima na carreira de Carlo Ancelotti, que agora tem a missão de comandar a volta por cima daquela que já foi a seleção mais temida do mundo.

Ao virar treinador, Ancelotti teve como modelos Cesare Maldini, Enzo Bearzot, Nils Liedholm, Arrigo Sacchi, mestres que marcaram a Itália. De estilos bem diferentes —do defensivo Bearzot ao fulgurante Sacchi—, parecem ter transformado Ancelotti em discípulo capaz de adaptar seus times às características dos atletas.

Ancelotti jogou em três clubes, Parma, Roma e Milan, além da seleção italiana. Mas duas delas foram equipes míticas, a Roma de Falcão, no começo dos anos 1980, e o Milan de Baresi, Paolo Maldini (filho de Cesare), Gullit e Van Basten, no final da mesma década e no começo da seguinte.

Desde o início, no Parma, então na Série B, Ancelotti destacou-se pela inteligência tática. Começou como centroavante, mas recuou para o meio-campo, onde sua visão de jogo era mais útil. Na seleção, jogou 26 vezes e fez apenas um gol, no Mundialito do Uruguai, em 1981, contra a Holanda.

Ao parar de jogar, em 1992, aos 33 anos, Ancelotti virou assistente de Sacchi na Itália. Assistiu do banco à derrota nos pênaltis para o Brasil, na decisão do Mundial de 1994. Poderia ter sucedido Sacchi, mas optou por clubes e nunca treinou uma seleção nacional.

Um pouco de sorte ajudou. Em 1996, Ancelotti assumiu o clube que o revelou, o Parma, com os milhões da Parmalat. O vice-campeonato italiano de 1997 até hoje é o melhor resultado do clube.


No começo, Ancelotti era adepto do 4-4-2. “Antes do Milan, ele era menos aberto a inovações táticas; com o tempo, porém, ele evoluiu”, diz Paolo Maldini, em autobiografia de Ancelotti em 2009.

A pedido do manda-chuva do Milan, Silvio Berlusconi —com quem teve relação conturbada—, “Carletto” foi para os “rossoneri” em 2001. Em oito anos, conquistou duas Champions League, com times que tinham Kaká, Rivaldo, Dida, Cafu, Serginho e Roque Jr.

A partir daí, Ancelotti integrou a prateleira dos treinadores top, que rodam pelos clubes mais ricos da Europa, onde os títulos nacionais são obrigação e o grande objetivo é a Champions: Chelsea (2009-2011), PSG (2011-2013), Real Madrid (2013-2015), Bayern (2016-2017). Nesse período, porém, a Champions só veio uma vez, em 2014, em célebre final que o Real perdia para o rival Atlético até os 47 do segundo tempo.

Em 2021, quando Ancelotti parecia trilhar o segundo escalão —Napoli (2018-2019) e Everton (2019-2021)—, o Real Madrid o escolheu para substituir Zidane. E a segunda passagem de Don Carlo foi ainda mais vitoriosa: 15 troféus em quatro anos, incluindo as Champions de 2022 e 2024.

Mas no Real, porém, meses sem títulos bastam para desgastar um técnico e, desde 2024, as partes sinalizam o final da relação. Junte-se a isso a crise no futebol brasileiro, iniciada nos 7 a 1 da Copa de 2014. Essa conjunção quase deu frutos em 2024, quando Ancelotti esteve perto de acordo. Os maus resultados do Real e da seleção em 2025 motivaram o pacto atual.

Nesta semana o coordenador técnico do Brasil, o ex-zagueiro Juan, e o coordenador-executivo Rodrigo Caetano irão a Madri para iniciar o trabalho com Ancelotti, que assume em duas semanas.

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Com o anúncio, a CBF mostra que é 100% Jesus, mas 0% Jorge. Devem estar preparando a túnica de Carlo Ancelotti, incluindo belos coletes. Não sei se ele pode usar vermelho, como o papa. Mas a cor virou polêmica para a seleção, averoquea mãe-nike dirá

Habemus técnico

Medalha de ouro no futsal (improvisado no gol) e no vôlei do ensino fundamental em 1986; na Folha desde 2001 Sandro Macedo DOM. Tostão, Juca Kfouri seg. Juca Kfouri ter. Sandro Macedo qua. Tostão qui. Juca Kfouri sex. No Corre/o Mundo é uma Bola sáb. Mar

Carlo Ancelotti vinga derrota italiana no conclave e é nomeado para a seleção

Demorou mais tempo que o conclave do papa, mas alguém jura que viu a fumaça branca do charuto importado de Ednaldo Wonka. Habemus técnico: Carlo Ancelotti. A notícia foi dada primeiramente por alguma espécie de Ilze Scamparini do mercado da bola. Mas a confederação da bola fantástica, CBF, presidida por Wonka, confirmou.

Com o anúncio, a CBF mostra que é 100% Jesus, mas 0% Jorge. Devem estar preparando a túnica de Carlo Ancelotti nos próximas dias, incluindo belos e alinhados coletes. Não sei se ele pode usar vermelho, como o papa. Mas a cor se mostrou polêmica para a seleção, a ver o que a mãe-nike vai dizer —aliás, teria a Nike alguma relação com a vestimenta papal?

Foi um conclave muito mais longo que o do papado. O que faz crer que 133 cabeças de cardeais pensam muito mais rápido do que as múltiplas personalidades do manda-chuva da CBF.

Curiosamente, o anúncio é feito na semana em que os opositores de Ednaldo estão salivando para afastar o moço por suposta assinatura falsa do Coronel Nunes feita em cordo com o STF pró-ednaldo —para resumir a novelinha. Deve ser coincidência.

Enquanto este texto era escrito, este humilde escriba já viu vídeo oficial de Ednaldo com o anúncio, concluindo com um “vamos junto, Brasil”. Isso indica que o míster chegará ao Brasil falando português melhor que o presidente.

A escolha de Ancelotti deve ser também uma vitória para a Itália, após levar virada inesperada contra os EUA na corrida papal. Carleto vinga a derrota de Pietro Parolin, Pierbattista Pizzaballa e Matteo Zuppi.

Ancelotti poderia ter vindo no ano passado, com a seleção desesperada e os cofres da CBF abertos. Os cofres, aliás, continuam abertos.

Mas Ancelotti era muito vitorioso para a seleção nos últimos anos. Não estava dando “match”. Precisava de um período para se adequar. Nesta temporada, Carleto foi surrado sem piedade pelo Barcelona. Os últimos jogos incluem 4 a 0, 5 a 2, 3 a 2 (com prorrogação, na final da Copa do Rei) e o 4 a 3 deste domingo. Total, Barcelona 16x7 Real Madrid. Na Champions League, ficou em 11º na fase de grupos e perdeu para o Arsenal (uhu) na ida e na volta.

Agora, sim, Ancelotti está pronto. Só precisa ganhar uma Copa... melhor pedir algum conselho ao papa.

E Endrick deve ter ficado feliz com o anúncio. Afinal, o professor não poderá convocar Mbappé, Arda Güler e Brahim Diaz para a seleção. Diminuiu a concorrência.

Agora é só dar uma olhada nas redes sociais de Galvão Bueno, o homem que não cala, e contar quantas vezes ele vai contar alguma história envolvendo ele, Carleto, ele, Falcão, ele, alguém e ele… tudo para dizer que ele e o novo técnico são bons amigos. Pode isso?

Round 38 - Sete Homens e o mesmo destino

Nesta semana estreia no Brasil o terror “Premonição 6”. Mas no Brasileirão já são 7… vítimas. O mais recente degolado foi o querido Fábio Matias (Juventude), que nos deixou após a goleada sofrida por 5 a 0 para o Fortaleza. Terá tempo para ver “Premonição 6”, que também chega aos cinemas de Caxias do Sul. Após o round 8, restam agora 13 sobreviventes: Brasileiros 8x5 Estrangeiros.

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