Eternamente Rei Artur
23 Feb 2024 - Record
OPINIÃO RUI DIAS Redator principal
PARA LER AINDA MAIS NO çHavia nele a arrogância de quem se sentia um degrau acima dos outros; era um homem de difícil acesso, estrito no contacto com os outros, pouco expansivo, muito metido com ele, para quem a vida nunca se reduziu ao futebol. Foi um grande jogador, avançado elegante, inovador, com excelente relação com o golo, que seria estrela do Benfica de Eusébio; e foi um treinador excecional, que assimilou todos os ensinamentos de mestre José Maria Pedroto e os enriqueceu com o estudo e a capacidade de modernizar princípios, ideias, métodos e comportamentos. Foi campeão nacional (FC Porto e Paris Saint-Germain) e foi o primeiro português a chegar ao topo da Europa.
Um dia, nos anos 80, escrevi um texto de que não gostou.
Irritou-se com o seu teor e verbalizou-o entre camaradas que me transmitiram o sentimento de revolta. Das várias expressões irritadas que emitiu retive uma: “Quem julga este tipo que é?” Tinha pouco mais de 20 anos e critiquei as opções de Artur Jorge com argumentos primários, sem qualquer sentido. Cerca de um ano depois cruzámo-nos num evento institucional; tocou-me nas costas e disse-me que precisávamos de falar. Aproveitou então para me dar uma das lições mais marcantes da carreira, reduzindo à insignificância a soberba de pôr em causa decisões amadurecidas e corretas de um homem que dedicou toda a vida a estudar o futebol. Um exemplo para o resto da vida, sei-o hoje, 40 anos depois.
Artur Jorge sempre fez parte do meu imaginário.
Admirei-lhe o estilo, a distância, o conhecimento, a pose de quem, vivendo neste mundo competitivo, se elevava para observá-lo de um patamar superior. Em 2010 recebeu-nos em sua casa. Para uma derradeira entrevista e para lhe ser feita justiça, recebendo o ‘Record de Ouro’. Partiu hoje uma das personalidades mais importantes da história do futebol português, rei Artur para a eternidade.
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