O ARRANQUE DE UM IMPÉRIO ESMAGADOR
“Os adeptos ainda não viram nada”, disse então, surpreendido com a surpresa dos outros
O DESASSOMBRO FOI TOTAL DEPOIS DA TITULARIDADE QUE BÖLÖNI LHE CONCEDEU. CR7 ESTAVA COBERTO DE RAZÃO
5 Feb 2025 - Record
RUI DIAS
Era uma vez um menino pobre, que sonhava grande e se agarrou à bola como saída para as agruras de uma vida de privações. O talento nasceu com ele e só o futebol o estimulou a sonhar; a convicção de que a derrota social não era inevitável cresceu à medida que o tempo foi passando e lhe orientou o comportamento. Com base nestes pressupostos, a luta diária constituiu um desafio às leis de uma sociedade implacável, razão pela qual os primeiros sucessos, os primeiros golos, os primeiros sinais de reconhecimento exterior tiveram a força acrescida da vingança. Nasceu com pouco, mas não se resignou ao destino e, à custa de um génio inigualável, foi erigindo sumptuoso império de conquistas, até se tornar um dos homens mais poderosos do Mundo. Cristiano agarrou-se à bola, primeiro como entretenimento, depois como modo de vida, levando-a das ruas do Funchal ao céu, que atingiu à custa dos favores de mãe natureza, mas também de trabalho e obstinação. As histórias sucederam-se desde os primeiros passos no Andorinhas e no Nacional, sempre na Madeira, e depois no Sporting, por intervenção desse visionário do futebol chamado Aurélio Pereira. Certo dia, o professor Silveira Ramos, então quadro da estrutura técnica da FPF, trouxe para uma tertúlia futebolística a convicção segundo a qual o Sporting tinha um jovem avançado cujas qualidades técnicas e físicas só podiam ser comparadas a Eusébio. Referia-se a Ronaldo, então com 15 anos, que acabaria por convocar para a Seleção Nacional de sub-16. Desde essa altura manteve-se na órbita de todos quantos ouviram e interpretaram as palavras de quem sabe. Não muito tempo depois, a 20 de julho de 2002, na apresentação aos sócios do Sporting, que vinha de conquistar o título nacional de 2001/02, Laszlo Bölöni tinha guardada enorme surpresa para os adeptos: escolheu Ronaldo para o onze titular frente ao PSG, uma semana depois de o ter feito com o Olympique Lyon. Nesse final de tarde, no velho Alvalade, os jornalistas agitaram-se e, no final, levaram o frenesim para as cabinas, onde tentaram ouvir as impressões do jogador. A irreverência e o desassombro marcaram o contacto. Cristiano surpreendeu-se com a surpresa dos outros (“Ainda não viram o verdadeiro Ronaldo”) e situou o momento como se fosse a coisa mais natural do mundo: “Isto é só o começo!”
A reação agitou os mais conservadores (“Assim não vai a lado algum”) mas estimulou os que acreditavam estar perante um fenómeno para a eternidade – e se fosse verdade que, apesar do alvoroço, ainda não tivéssemos visto a totalidade do que tinha para dar? Foi refletindo sobre essa dúvida, com a convicção de que o miúdo estava coberto de razão, que escrevi neste jornal um artigo que, sendo hoje premonitório do nível que havia de conseguir, foi durante algum tempo encarado como exagero de apreciação. Visto e analisado à distância de quase um quarto de século, peca por escasso. Cristiano Ronaldo foi muito mais do que o deslumbrado retrato feito nos alvores do século XXI, quando ainda era um adolescente imaturo pronto a conquistar este Mundo e o outro.
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A FORÇA DE BATER TODOS OS RECORDES
Para lá da estatística, foi com ele que Portugal ganhou o Europeu e a Liga das Nações
5 Feb 2025 - Record
RUI DIAS
Poucos podiam imaginar que o menino convocado por Luiz Felipe Scolari para o encontro com o Cazaquistão, em Chaves, chegaria tão longe na história da Seleção Nacional. Cristiano entrou ao intervalo desse jogo, assente numa transferência recente para o Manchester United e em números respeitáveis conseguidos nas camadas jovens por Portugal: 33 jogos e 17 golos. Mas o incrível percurso excedeu as melhores expectativas, rebentou todas as teorias à volta da longevidade ao mais alto nível e elevou os recordes de jogos e golos para níveis absolutamente impensáveis e muito difíceis de superar nas próximas décadas: 217 jogos e 135 golos. Isto com a certeza de que não vão ficar por aqui.SUCESSO. Com o troféu de campeão europeu em 2016
OS NÚMEROS SÃO IMPENSÁVEIS E MUITO DIFÍCEIS DE SUPERAR: 217 JOGOS E 135 GOLOS. UMA CERTEZA: NÃO FICARÃO POR AQUI
A par da exuberância individual, traduzida numa contabilidade única a nível mundial, Portugal beneficiou da sua presença para dar passos rumo a uma posição única na centenária história da Seleção. CR7 esteve presente no Euro’2004 e, desde então, não falhou uma fase final de qualquer competição, com a vantagem da consolidação de um lugar nos lugares cimeiros do ranking. Isto para lá de ter sido no seu consulado como grande estrela universal, que Portugval obteve as duas grandes conquistas no âmbito internacional: o Campeonato da Europa (2016) e a Liga das Nações (2019).
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A caminho do sexto Mundial
Aos 40 anos, Cristiano caminha para o sexta fase final de um Campeonato do Mundo, feito raro e que só encontra paralelo em guarda-redes, cuja longevidade é maior que a dos restantes. Em 2026, CR7 terá 41 anos e, na continuação do que tem feito no Al Nassr e na Seleção Nacional, continuará a ser referência e desequilibrador.
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GRANDES MOMENTOS
PRIMEIRO JOGO OFICIAL.
A 14 de agosto de 2002, estreia-se como profissional. Foi numa pré-eliminatória da Champions frente ao Inter. Entrou aos 68’ para o lugar de Toñito.
BIS AO MOREIRENSE.
Estreia-se a marcar ao bater o guarda-redes Roberto Volpato e logo por duas vezes. Foi a 7 de outubro de 2002 no velho Estádio José Alvalade.
FERGUSON RENDIDO.
A 6 de agosto de 2003, trocou as voltas a O’Shea na estreia do novo Alvalade. O Sporting vence por 3-1 e Ferguson não deixou Lisboa sem levar o jovem Ronaldo.
NASCE O... CR7.
Seis dias depois é apresentado em Machester ao lado do brasileiro Kleberson. Recebe a mítica camisola ‘7’ do United.
ESTREIA NA SELEÇÃO.
A lenda ao serviço de Portugal começa em Chaves, a 20 de agosto de 2003, num particular frente ao Cazaquistão. Foi lançado ao intervalo por Luiz Felipe Scolari.
GOLO À RED DEVIL.
A 1 de novembro faz o primeiro golo no United ao bater, de livre, Shaka Hislop, guardião do Portsmouth.
PRIMEIRO TROFÉU.
Na primeira época em Inglaterra, conquista a Taça frente ao Millwall. Marca na vitória por 3-0, a 22 de maio de 2004.
LÁGRIMAS.
Chamado ao Euro’2004, estreia-se a marcar no jogo de estreia diante da Grécia, mas acabou em lágrimas ao perder na final diante dos gregos, a 4 de julho.
EM NOME DO PAI.
O jogo mais difícil da carreira foi no apuramento para o Mundial’2006, a 7 de setembro de 2005. Na véspera no jogo na Rússia, recebeu a notícia da morte do pai, Dinis Aveiro. Ficou e jogou.
UNITED CAMPEÃO.
Em 2004 ganhou o Arsenal, 2005 e 2006 foi para o Chelsea de Mourinho. Mas, na época 2006/07, os red devils acabaram a festejar a 13 de maio.
GLÓRIA EM MOSCOVO.
A 21 de maio conquista a primeira Champions. Em Moscovo, frente ao Chelsea, marca de cabeça. Depois, falha o penálti no desempate, mas acaba a sorrir.
BOLA DE OURO.
A 2 de dezembro de 2008, recebe a primeira Bola de Ouro, superando Lionel Messi e Fernando Torres.
GELO NO DRAGÃO.
Um remate de longe frente ao FC Porto, no Dragão, a 15 de abril, dá-lhe o prémio Puskas de 2009.
TRICAMPEÃO E ADEUS.
Festeja o tricampeonato pelo Man. United a 16 de maio. Depois, chega a hora do adeus ao clube.
HALA MADRID.
A 6 de julho de 2009, o Santiago Bernabéu recebe 85 mil pessoas… para a apresentação. Nunca se viu nada assim. O Real Madrid pagou 94 M€, verba recorde na altura.
PRIMEIRO PÓQUER.
Marca pela primeira vez quatro golos na goleada por 6-1 do Real Madrid ao Racing Santander, a 23 de outubro de 2010.
DECISIVO NA TAÇA.
A 20 de abril de 2011, conquista o primeiro troféu no Real Madrid ao marcar de cabeça o único golo da final da Taça do Rei, diante do Barcelona.
CAMPEONES!
Depois de três anos de domínio do Barça de Guardiola, o Real Madrid consegue conquistar a Liga, a primeira de CR7. A festa foi a 2 de maio de 2012.
GLÓRIA NA SUÉCIA.
Depois da vitória por 1-0 na Luz, a Friends Arena, em Estocolmo, foi palco de uma das melhores exibições de Cristiano Ronaldo na Seleção. A 19 de novembro de 2012, frente à Suécia, marcou três golos no triunfo por 3-2 e garantiu o bilhete para o Mundial’2014.
BIS DE OURO.
Os 69 golos em 2012/13 valeram-lhe a segunda a Bola de Ouro, recebida a 13 de janeiro de 2014, superando Messi e Ribéry. Foi a primeira vez que um português bisou.
LA DÉCIMA.
Vence a segunda Champions, a primeira no Real Madrid. No Estádio da Luz, a 24 de maio, os merengues vencem o At. Madrid por 4-1 após prolongamento. De penálti, CR7 fixa o resultado final.
‘SIIIIIIII!!!’.
A 12 de janeiro de 2015, nova Bola de Ouro para Cristiano Ronaldo. Ficou célebre o ‘Siiiiiiiiiiii’ na entrega dos prémios, que até hoje se ouve nos estádios.
MELHOR MARCADOR.
A 30 de setembro de 2015 bisa frente ao Malmö e chega aos 324 golos pelos merengues, tornando-se no melhor marcador do clube, superando Raúl.
PARIS COM AMOR.
Vence o Euro’2016, o primeiro troféu pela Seleção. Éder foi herói na final de 10 de julho, em Paris, depois de CR7 sair lesionado ainda na primeira parte.
MAIS UMA.
A 9 de janeiro de 2017 conquista a quarta Bola de Ouro.
GLÓRIA EM CARDIFF.
Éa grande figura da final da Champions de 2016/17 ao bisar frente à Juventus, a 3 de junho. Um triunfo que lhe valeu mais uma Bola de Ouro nesse ano.
MÃO CHEIA.
A 26 de maio de 2018, o Real Madrid vence o Liverpool por 3-1 na final da Champions. Ronaldo conquista a 5ª Liga dos Campeões e faz o último jogo pelos blancos.
OLÁ, JUVENTUS!
Aos 33 anos e após quase uma década em Madrid, Ronaldo muda-se para Turim. Os italianos pagam 117 M€ e o português é apresentado a 10 de julho em Turim.
CAMPEÃO.
A 20 abril de 2019, sagrou-se campeão pela Juventus na época de estreia em Itália.
LIGA DAS NAÇÕES.
Conquista a Liga das Nações no Estádio do Dragão. Vitória por 1-0 frente à Holanda na final disputada a 9 de junho.
VOLTA A OLD TRAFFORD.
Após uma época sem qualquer título na Juventus, decide regressar a Manchester. A 27 de agosto de 2021 é anunciado no United.
O MAIOR.
A 12 de março de 2022, faz um hat trick ao Tottenham e passa a ser o melhor marcador da história do futebol, com 807 remates certeiros, ultrapassando Bican.
EXPLOSIVO.
Na 2ªépoca em Manchester, entra em rota de colisão com Ten Hag, dá uma entrevista explosiva e rescinde contrato a 22 de novembro de 2022.
REI DAS ARÁBIAS.
A 30 de dezembro de 2022 torna-se jogador do Al Nassr, rumando à liga saudita com o maior contrato da história do futebol.
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O QUE DIZEM SOBRE CR7
“É um dos melhores jogadores da história do futebol. Ele e eu tivemos uma rivalidade saudável ao longo dos anos, mas respeito muito o que ele fez e o que ele continua a fazer no futebol”
- MESSI, jogador argentino
“É um jogador extraordi- nário, que tem se destacado por sua habilidade, determinação e desejo de melhorar. Ele é uma grande inspiração para as gerações mais jovens”
- PELÉ, ex-jogador brasileiro
“Um líder dentro e fora de campo um profissionalismo impressionante. É um dos melhores joga- dores da história”
- ZIDANE, ex-treinador de CR7
“É um exemplo de profis- sionalismo. Ele sempre busca melhorar, e isso é o que o torna tão grande. A sua ética de trabalho é algo impressionante”
- JOSÉ MOURINHO, antigo treinador de CR7
“Quando chegou ao Man. United, era um talento em potência, mas o que se tornou é reflexo do trabalho árduo e da sua ambição. Ele sempre quis ser o melhor”
- ALEX FERGUSON, antigo treinador de Ronaldo
“Tem uma disciplina incrível e um talento natural que o faz ser diferente de muitos outros. Ele é o melhor”
- WAYNE ROONEY, ex-jogador inglês
“É um dos melhores jogadores de todos os tempos. É um vencedor incansável e nunca pára de melhorar. É uma verdadeira máquina, não apenas pelo seu talento, mas pela sua dedicação e trabalho duro”
- SERGIO RAMOS, ex-jogador do Real Madrid
“É pura potência, um animal em campo”
- DIEGO MARADONA, ex-jogador argentino
“Não é apenas um grande jogador, mas um atleta completo que entendeu como manter seu nível de excelência durante tanto tempo”
- RYAN GIGGS, ex-jogador galês
“Sempre foi capaz de adaptar seu jogo conforme o passar do tempo, o que mostra sua inteligência tática e sua grandeza como jogador”
- PAOLO MALDINI antigo jugador italiano
“Um exemplo de trabalho duro e de nunca desistir. A sua carreira é um reflexo do seu desejo imenso de vencer”
- IBRAHIMOVIC, antigo jogador sueco
“É o meu ídolo. A sua capacidade de trabalho inspira-me constantemente”
- KYLIAN MBAPPÉ, jogador do Real Madrid
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