A Rivalidade Brasil x Argentina

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Brasil e Argentina foram sempre protagonistas de jogos emocionantes, decisoes dramaticas e ate' batalhas campais. Por isso, sua velha rivalidade - na bola e, as vezes, na briga - se transformou no classico do continente.

A rica historia da Selecao Brasileira foi e continua sendo escrita sobretudo com vitorias maravilhosas, campanhas inesqueciveis e conquistas brilhantes. Ao lado de tantos momentos de grandeza, porem, ela registra um capitulo amargo: os confrontos com a Argentina, que ao longo de varias fases do nosso futebol pode exibir superioridade, talvez para o espanto dos mais ufanistas.

Nos jogos entre as duas selecoes, desde a decada de 70 os brasileiros foram aos poucos liquidando com uma diferenca apreciavel que existia em favor dos argentinos. A RSSSF apresenta no seu Web site uma relacao completa dos confrontos, que demonstra o equilibrio atual. Ligeiras variacoes nos numeros apresentados podem ser encontradas em outras relacoes, dependendo se sao considerados confrontos validos por campeonatos Pan-Americanos, Sul-Americanos de acesso, ou ate' mesmo amistosos em que um dos paises foi representado por combinados regionais.

Examinando-se exemplos mais antigos pode-se constatar a magnitude do obstaculo que os argentinos sempre representaram para os brasileiros. Em 114 partidas com a camisa do Brasil, Pele' so' sofreu 12 derrotas - e quatro delas foram contra a Argentina. O grande Jair Rosa Pinto, cuja carreira profissional comecou em 1938 e terminou em 1963, ganhou dela uma partida (por um apertadissimo 3 a 2) e perdeu cinco (uma por 5 a 1 e outra por 6 a 1). E Tim, um dos craques mais notaveis do mundo na sua geracao, jamais ganhou dos argentinos.

Eles levantaram 14 campeonatos sul-americanos; nos apenas 8, sendo que os quatro primeiros foram em casa (e em um deles, 1949, nao tivemos que enfrenta-los).

E' verdade que, nas Copas do Mundo, a vantagem passa a ser do Brasil, tanto no numero de conquistas quanto no confronto direto. Nelas, os eternos rivais ja' se cruzaram quatro vezes, com duas vitorias do Brasil, um empate e uma derrota.

A refletir a reacao brasileira nas ultimas decadas esta' o fato de que Zagallo, como tecnico, jamais havia perdido para a Argentina ate' o confronto de 29 de abril de 1998, em pleno Maracana. Alias, esta derrota (1x0) acabou com a invencibilidade de Zagallo contra paises sul-americanos.

Porem a mais irrefutavel demonstracao da superioridade brasileira em tempos recentes encontra-se no fato que, desde 1993, quando a Argentina conquistou o seu ultimo titulo, o da Copa America, o Brasil ja' conquistou oito titulos importantes: As Copas do Mundo de 1994 e 2002, as Copas America de 1997, 1999, 2004 e 2007, e as Copas das Confederacoes de 1997 e 2005. Nessas conquistas, incluem-se tres vitorias sobre a Argentina na final, sendo duas delas por goleada.

Episodios da rivalidade

1914: O primeiro jogo oficial

1914: O primeiro jogo oficial Pode parecer quase inacreditavel que, no inicio, os encontros fossem disputados num clima de impecavel cordialidade. Pois eram. Afinal, quando surgiu a Copa Roca, em 1913, levou-se a serio o objetivo do seu criador, o tenente-general Julio Roca. Um apaixonado pelo futebol, ele queria que a competicao servisse "para estimulo da juventude que em nossos paises cultiva esse nobilissimo esporte".

No ano seguinte, os brasileiros apanharam um vapor para Buenos Aires, onde foram recebidos com flores. No dia 20 de setembro, foi disputado um amistoso em Buenos Aires, que terminou com a tranquila vitoria platina por 3 a 0.

Houve banquetes e a 27 de setembro, o primeiro jogo oficial entre Brasil e Argentina, no Gymnasia y Esgrima de La Plata, pela disputa da Copa Roca. Com um tiro de 30 m, Rubens Salles, um rapaz de jogo e modos elegantes, fez 1 a 0 para o Brasil. No segundo tempo, o argentino Leonardi dominou a bola com a mao e marcou o que seria o gol de empate. O juiz brasileiro Alberto Borgerth, cirurgiao fora do futebol, validou o lance.

Ninguem comemorou o gol. O capitao argentino Gallup Lanus, a frente de outros jogadores, comunicou ao dr. Borgerth que, como o lance fora irregular, seu time nao aceitava a marcacao. No fim, o Brasil vencedor, milhares de torcedores invadiram o campo e carregaram nos ombros o goal-keeper brasileiro Marcos Mendonca.


1937: E os brasileiros viraram macaquitos

1937: E os brasileiros viraram macaquitos Eram outros tempos, sem duvida. Isso ficaria claro em 1937, durante o Sul-Americano em Buenos Aires. Empatados, Brasil e Argentina partiram para a negra. Os brasileiros, nessa altura, ouviam xingamentos ao inves de aplausos. Nas ruas, eram muitas vezes chamados de macaquitos. Para provoca-los, alguns torcedores lhes perguntavam se existiam telefones no Rio de Janeiro. Buenos Aires, na ocasiao, tinha fama de capital cosmopolita, arejada - a mais importante cidade do continente. Para se ter uma ideia, a rede de metrô era praticamente a mesma que ate' hoje funciona a contento.

Na delegacao brasileira, o tecnico Ademar Pimenta dava as prelecoes ao lado de uma bandeira nacional. Alguns se contaminaram com esse furor civico, como se estivesse em jogo a honra do pais.

-- Daremos a ultima gota de sangue -- prometeu o ponta Roberto a Radio Cruzeiro do Sul de Sao Paulo.

Resultado: Tim saiu mancando. Cardeal foi carregado de maca, Barto^ sentiu-se mal e Jau' lesionou o ombro, ao termino de um duelo dramatico, sem gols. Na prorrogacao, a Argentina chegou aos 2 a 0. Inconformada com um dos gols e assustada com a inseguranca do estadio do San Lorenzo, a Selecao Brasileira tentou abandonar o campo. Mas a porta do vestiario estava fechada. Por muito tempo, a imprensa brasileira classificou a partida de "jogo da vergonha".

-- Para falar a verdade -- explicava Tim decadas depois, de ha' muito esquecido da paixao daquele momento --, perdemos porque eles jogaram melhor.


1939: O penalti sem goleiro

1939: O penalti sem goleiro Em todo caso, o Brasil queria vinganca. E marcou data e local: 15 de janeiro de 1939, em Sao Januario, pela Copa Roca. Terceira colocada na Copa do Mundo, realizada na Franca no ano anterior, a Selecao Brasileira era realmente excepcional: Batatais; Domingos e Machado; Bioro', Brandao e Medio; Luisinho, Romeu, Leonidas, Tim e Hercules.

Pena que os argentinos apresentassem uma das maiores formacoes que o futebol sul-americano ja' viu: Gualco, Montanez e Coleta; Arcadio Lopez, Rodolfi e Suarez; Peucelle, Sastre, Massantonio, Moreno e Garcia.

E o que aconteceu? O Brasil, que nunca fora derrotado por ninguem dentro do pais, perdeu feio: 5 a 1. A Argentina chegou a colocar 5 a 0 no marcador.

Ainda bem que haveria revanche. Seis dias depois, as equipes retornaram ao estadio do Vasco da Gama, completamente lotado. E que sofrimento: o Brasil sai na frente, os argentinos viram para 2 a 1, o Brasil empata e, no finzinho, o juiz patricio Carlos Monteiro (o mesmo dos 5 a 1), conhecido como Tijolo, marca um daqueles penaltis duvidosos. Foi? Nao foi? Na duvida, Lopez agride Tijolo e apanha da policia. Em represalia, os argentinos vao para o vestiario. A porta, dessa vez, estava aberta.

Sem goleiro, Peracio - que entrara no lugar de Tim - bateu afinal o penalti. Os anais do futebol atestam que o Brasil ganhou por 3 a 2. Os argentinos desistiram de jogar a negra, e assim o Brasil e' proclamado vencedor da IV Copa Roca, de uma maneira inedita na historia do futebol sul-americano.


1946: Na hora da vinganca, pernas quebradas

1946: Na hora da vinganca, pernas quebradas Pouco mais de um ano depois dos 5 a 1 de 1939, os argentinos ainda conseguiriam duas goleadas em Buenos Aires, por 6 a 1 (a maior de todas) e 5 a 1, ambas pela Copa Roca.

Vinganca das goleadas, no duro, so' teriamos a 20 de dezembro de 1945, em Sao Januario, tambem pela Copa Roca, com uma categorica, retumbante goleada de 6 a 2, gols de Ademir(2), Heleno, Zizinho, Chico e Leonidas. Essa foi a maior goleada ja' registrada pelos brasileiros contra os argentinos.

Mais do que os 6 a 2, no entanto, um acidente e' que marcaria esse jogo. Autor de dois gols, Ademir Menezes, entao um jovem de 20 anos, fraturou a perna de Batagliero, um zagueiro argentino de estilo viril. Puro acidente. Ademir jogou limpo. Os que bateram foram o medio Zeze' Procopio e o ponta-esquerda vascaino Chico, manhosos e aplicados na tecnica de tirar um adversario de campo sem que o arbitro percebesse.

Chegava entao a vez dos argentinos pedirem vinganca. Tres meses depois, la' se iam os assustados brasileiros para o Sul-Americano de Buenos Aires. Final contra quem? A Argentina, e' claro.

Como medida preventiva, Flavio Costa resolve deixar Ademir na reserva. Na vespera, numa tentativa de melhorar o ambiente, o chefe da delegacao, Ciro Aranha, levou Ademir para visitar Batagliero. Deitado na cama, a perna engessada, Batagliero sorriu. Mas, no estadio do River Plate, onde o Brasil se concentrou, Chico recebeu um conselho de um argentino:

-- E' melhor nao jogar. Nos vamos te matar.

Chico, gaucho valente e brigao, que nascera e se criara em Uruguaiana, na fronteira, respondeu com raiva:

-- Pois vao ter que me matar mesmo!

Trinta e quatro anos depois, em entrevista a revista Placar, Chico, ja' um pacato cidadao, afirmou que, em dez partidas contra selecoes e clubes da Argentina, foi expulso em nove. Merecidamente, admitiu. E ainda declarou, com o rosto retesado, como se estivesse de volta aquela noite de 1946:

-- Sabe de uma coisa? Minha avo' e' de la', mas eu odiava os argentinos.

Antes da partida, Jose' Salomon, El Gran Capitan, zagueiro classico, idolo da torcida argentina, 44 jogos pela albiceleste, oferece uma cesta de flores ao veterano capitao brasileiro Domingos da Guia no centro do gramado. Mas o clima era de ameacas. Numa encenacao montada antes, Batagliero desfilara de maca em redor do gramado. Dando a impressao que se dirigia aos jogadores brasileiros, a torcida bradava num tom patetico:

-- Mira! Mira!

Era como se dissessem: "Vejam o que voces fizeram com ele. Daqui a pouco tem troco!" Muitos torcedores, aticados, gritam:

-- Queremos la cabeza de Chico e Procopio!

Bola rolando, e aos 28 minutos, ha' uma bola espirrada na intermediaria entre Jair e Salomon. O capitao argentino entra de carrinho para ganhar a jogada de qualquer modo. Jair vira o rosto e levanta a perna, em atitude instintiva de defesa. O choque foi inevitavel, com a perna direita de Salomon destrocando-se na sola da chuteira de Jair. Houve fratura dupla: tibia e peronio. Salomon nunca mais se recuperou.

Vendo que o argentino Fonda vem para acerta-lo, Jair chispa para o vestiario. Chico vem acudi-lo, segura Fonda e e' derrubado por Strembel pelas costas. De repente, esta' sozinho contra uma multidao de argentinos, soldados e jogadores. Levou pontapes, socos e, as maos na cabeca, defendeu-se com bravura dos golpes de sabre.

Por alguns minutos, ele viu a morte de perto. Sua sorte e' que um arbitro careca, forte, grandao e corajoso, agente da Policia Especial do Rio de Janeiro, invadiu o campo e abriu caminho entre os cavalos, os soldados e os jogadores argentinos. Era Mario Vianna. Ele nunca soube ao certo como conseguiu carregar Chico e leva-lo a salvo ate' o vestiario.

A noite do desespero nao terminara. Aproveitando-se da confusao, umas 500 pessoas pularam para o campo. A policia atirou bombas de gas, mas so' a muito custo elas sairam dali.

O Brasil, trancado no vestiario, nao pretendia voltar. Mas o chefe do policiamento do estadio advertiu que, nesse caso, nao garantiria a seguranca de ninguem. Lentamente os jogadores foram para o tunel. Chico ficou - alem de todo lanhado, estava expulso, juntamente com de la Mata. Zizinho tambem: Flavio Costa resolveu substitui-lo por Ademir.

Recomecado o jogo, mal Ademir tocou na bola, levou um soco na nuca que o deixou zonzo. Ademir nao jogou futebol. Nem o resto do time brasileiro.

A Argentina fez o que quis e so' nao marcou mais de dois gols - ambos atraves de Mendez - porque nao se interessou. Os 2 a 0 lhe serviram para garantir o titulo de campea sul-americana. E o Brasil se conformou, consciente de que tentar uma vitoria equivaleria a praticar um suicidio. Ha' quem jure que, pelo menos em um dos gols a zaga facilitou. Alguns jogadores, inclusive, chegaram a comentar isso, logo depois que o hidroaviao da Panair deixou afinal para tras o Rio da Prata e suas duras lembrancas.

De subito alguem se lembrou: E o Chico?

Chico, que queria aproveitar a viagem para visitar a familia, sacolejava num trem para Uruguaiana, resmungando de dor. Para evitar o pior, 12 soldados armados o escoltaram ate' a fronteira, onde os gauchos o receberam como um heroi de guerra.


Outras partidas historicas

Outras partidas historicas So' o tempo poderia apagar o pesadelo de 1946. Por dez longos anos, as duas selecoes estiveram de relacoes virtualmente rompidas. A Argentina nao veio ao Rio para o Sul-Americano de 1949 nem para a Copa de 1950. O Brasil tambem nao foi mais la' ate' 1956, quando o tempo ja' se encarregara de apagar ao menos uma parte das imagens do pesadelo daquele verao portenho.

As duas selecoes ainda disputariam partidas dramaticas, como o empate de 1 a 1 na final do Sul-Americano de 59 que daria o titulo a Argentina.

Os 2 a 1 para a Argentina, no Maracana, em 7 de julho de 1957, e' memoravel por ter sido a estreia de Pele', que fez ali o seu primeiro gol pelo Brasil. O tecnico era Silvio Pirilo, que o colocou em campo no segundo tempo, no lugar de Del Vecchio. Mesmo perdendo, o time brasileiro foi bastante elogiado, e a presenca de Pele' foi aclamada.

Um dos mais inesqueciveis gols de Pele' foi marcado contra a Argentina, em 8 de marco de 1970, no Maracana, encobrindo a Cejas, quando a partida parecia que ia terminar empatada em 1 a 1.

Outros jogos importantes terminaram em goleadas. Em 12 de junho de 1960, no Maracana, o Brasil goleou a Argentina por 5 a 1, pela Taca do Atlantico, gols de Pepe(2), Chinezinho, Pele' e Delem. Em 1964, a CBD promoveu a Taca das Nacoes, para celebrar o cinquentenario da sua fundacao. A Argentina estragou a festa ao arrasar o Brasil por 3 a 0, em Sao Paulo, no dia 3 de junho, com o goleiro Carrizo defendendo um penalti cobrado por Gerson. A selecao vinha de derrotar a Inglaterra por 5 a 1 quatro dias antes, na estreia. A Argentina acabaria levando a Taca para Buenos Aires.

Em 1968, houve o famoso "jogo do ole'". Aconteceu no Maracana, na noite de 7 de agosto, quando um combinado carioca formado por oito jogadores do Botafogo, dois do Vasco e um do Fluminense, vestindo a camisa da selecao brasileira, abateu a selecao argentina por 4 a 1. Os brasileiros botaram os adversarios na roda e ficaram batendo bola durante varios minutos, aplicando um ole' que so' foi terminar com a marcacao do quarto gol por intermedio de Jairzinho, sob o delirio da torcida.

E a partir de 1974, comecaram os confrontos entre as duas selecoes em Copas do Mundo. No primeiro, em Hannover, o Brasil ganhou por 2 a 1, o que o credenciaria depois a disputar - e perder - o terceiro lugar de 1974. No segundo, em Rosario, o empate sem gols praticamente determinou o "campeao moral" e o campeao de fato em 1978. Em 1982, houve a vitoria categorica do Brasil por 3 a 1, com as imagens marcantes do samba de Junior apos o terceiro gol e o pontape' de um frustrado Maradona na barriga de Batista, seguido da sua expulsao. Em 1990, a selecao foi eliminada nas oitavas-de-finais, apesar de ter dominado a partida durante mais de 80 minutos, por aquele fatidico gol de Caniggia.

No encontro pelas quartas-de-finais da Copa America em 17 de julho de 1995, mais lenha foi colocada na fogueira da rivalidade pelo discutido gol de Tulio, apos este ter controlado a bola com o braco. O gol estabeleceu o empate definitivo em 2 a 2. Na disputa de penaltis que se seguiu, o Brasil eliminou a Argentina, ao vencer por 4 a 2.

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