Seleção inicia era Ancelotti com empate sem gols no Equador


Rodrigo Buendia/afp Rodrigo Buendia/afp

Brasil mostra segurança na defesa e pouca criatividade no ataque em estreia de técnico italiano em Guayaquil, pelas Eliminatórias da Copa

6 giu 2025 - Folha de S.Paulo

Tietado desde o desembarque no Rio, Carlo Ancelotti foi apresentado com pompa na seleção e festejado por onde passou nas últimas semanas, com visita a pontos turísticos e presença em jogos de times brasileiros. Nesta quinta (5), em Guayaquil, teve de encarar a realidade que o aguardava no time nacional.

O Brasil empatou por 0 a 0 com o Equador, no estádio Monumental. Na estreia do italiano, a equipe encarou um adversário de qualidade, vice-líder das Eliminatórias da Copa, em duelo truncado.

Ancelotti sabia que a fase era ruim e que o confronto fora de casa não era fácil, contra um rival bem treinado pelo argentino Sebastián Beccacece. Armou um time firme, que marcou com segurança e encontrou dificuldade na criação.

Ao apito final, a formação verde-amarela ocupava a quarta colocação no torneio classificatório da América do Sul para o Mundial de 2026, com 22 pontos —poderá cair para quinto nesta sexta (6), em caso de vitória da Colômbia.

Ancelotti apostou em uma equipe bem mais compacta do que a versão utilizada por seu antecessor, Dorival Júnior. Agrupou seus atletas na marcação, em um 4-1-41 que forçava o adversário a buscar passes longos.

No primeiro tempo, as defesas sobressaíram. A seleção só teve uma chance mais clara em roubo de bola de Estêvão no campo de ataque, mas dois erros seguidos de passe dificultaram a finalização de Vinicius Jr., travada por Ordóñez. Casemiro, de cabeça, em escanteio, errou a pontaria.

O Equador chegou com maior perigo em dois cruzamentos. No primeiro, Alisson saiu mal do gol e contou com erro de Pacho na conclusão. Na segundo, Yeboah foi quem não conseguiu dar a direção que desejava no cabeceio.

Após o intervalo, cresceram as dificuldades do Brasil na saída de bola, atrapalhada pela pressão do rival. No ataque, Estêvão e Richarlison viviam dificuldades técnicas —foram substituídos por Martinelli e Matheus Cunha.

O panorama não mudou muito, embora Casemiro tenha finalizado perigosamente, após passe de Vinicius Jr. e corta-luz de Gerson. Andrey e Andreas Pereira ainda foram acionados por Ancelotti, porém os dois times mostraram mais cautela para evitar a derrota nos minutos derradeiros do que ímpeto para buscar a vitória.

***

O retorno do complexo de vira-latas

Na fase atual da seleção brasileira, cabe o termo criado por Nelson Rodrigues

Os rivais não tremem mais diante do Brasil. 
E nós estamos incorporando o “viralatismo” de Nelson

6 Jun 2025 - Folha de S.Paulo
Luís Curro luis.curro@grupofolha.com.br

Pouco antes da Copa do Mundo da Suécia, em 1958, o genial Nelson Rodrigues escrevia a crônica “Complexo de vira-latas”.

“Por complexo de vira-latas”, redigiu, “entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca em face do resto do mundo. Em todos os setores e, sobretudo, no futebol.”

Para Nelson, o brasileiro ampliou essa subalternidade, no futebol, a partir da derrota na decisão da Copa de 1950, em casa, para o Uruguai, na qual, nas palavras dele, perdemos “por um motivo simples: porque Obdulio [Varela, o capitão da Celeste] nos tratou a pontapés, como se vira-latas fôssemos”.

Perdíamos, segundo o escritor e dramaturgo, não por não possuirmos técnica ou tática, mas porque nos sentíamos inferiores.

Note a comparação para emblemar o brasileiro. O vira-lata é um cão sem uma linhagem genética definida, devido à mistura de raças. Assim eram os daqui que jogavam futebol à época. Mestiços. Longe da nobreza ou da riqueza.

Meio que escanteados e vistos com desconfiança pela sociedade, assim como os vira-latas de então, que perambulavam cabisbaixos pelas ruas, sem dono, revirando as latas de lixo atrás de restos de comida, enxotados pelos transeuntes. Uns coitados.

Com o êxito de Pelé, Garrincha e companhia nos campos escandinavos, o complexo de vira-latas esvaiu-se. Maiorais, tornamo-nos pentacampeões mundiais.

Mas, depois de ganhar em 2002, perdemos as Copas de 2006, 2010, 2014, 2018 e 2022.

Ficamos 17 anos sem um melhor do mundo, até que Vini Junior faturou o prêmio The Best, da Fifa, em 2024. Por quê? Pelas atuações no Real Madrid, não com a camisa amarela da seleção.

Ele, como os demais jogadores, tem amarelado com a, como dizia Zagallo, “amarelinha”. Marquinhos, campeão europeu há poucos dias com o francês PSG, declarou, depois de derrota para o Paraguai no ano passado, faltar confiança à seleção.

A real é que os adversários não tremem mais diante do Brasil. E nós, brasileiros (time e torcida), se não trememos, estamos incorporando o “viralatismo” de Nelson.

A autoestima baixou vertiginosamente pós-copa do Qatar. No caminho para a de 2026, foram três derrotas seguidas nas Eliminatórias, algo inédito. Até ontem, antes de enfrentar o Equador, em 25 jogos, empatamos 8 e perdemos 7, com aproveitamento de vitórias de meros 40%.

Para culminar, a humilhação de 4 a 1 ante a Argentina, que derrubou Dorival Júnior.

A solução? Recorrer a um treinador estrangeiro. Nada mais vergonhoso para a classe de técnicos nacionais, vista hoje mais do que nunca como uma categoria, sempre aludindo a Nelson, vira-lata, desconceituada.

Carlo Ancelotti, um italiano, na seleção brasileira. Qualificado, mas não fala nossa língua e em seus 65 anos nunca tinha pisado no Rio, nosso maior cartão-postal. Sem xenofobia, essa é a realidade.

Em outros tempos, seria delírio dar as rédeas da seleção, a pátria em chuteiras (como dizia Nelson), a um gringo. Agora, não. Perdemos o amor-próprio e precisamos de um forasteiro para dar certo.

O vira-lata atualmente não é mais marginalizado ou desprezado. Porém, na ausência de um termo para o complexo que vivemos, recorro ao passado para verbalizar o sentimento presente relacionado à seleção. Viralatamos.

***

Equador 0 x 0 Brasil

EQUADOR
Galíndez; 

Ordóñez, Pacho, Hincapié e Estupiñán; 

Vite, Alan Franco, Moisés Caicedo e Yeboah (Kevin Rodríguez); 

Minda (Preciado) e Angulo (Medina) 

Técnico Sebastián Beccacece

BRASIL
Alisson;
 
Vanderson, Marquinhos, Alex e Alex Sandro; 

Casemiro, Bruno Guimarães (Andreas Pereira) e Gerson (Andrey Santos);
 
Estêvão (Gabriel Martinelli), Richarlison (Matheus Cunha) e Vinicius Jr. 

Técnico Carlo Ancelotti

local Estádio Monumental 
árbitro Piero Maza (CHI) 
cartões Nenhum

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