EX-CARRASCO
RAFAEL RIBEIRO / CBF / DIVULGAÇÃO / 6-6-2025Trunfo para hoje.
Técnico Carlo Ancelotti observa Raphinha e Andreas Pereira em treino no CT Joaquim Grava
Raphinha vai de dor de cabeça a solução para Ancelotti contra Paraguai
10 Jun 2025 - O Globo
RAFAEL OLIVEIRA Enviado Especial
SÃO PAULO - Antes de Carlo Ancelotti ser recebido na seleção com o status de “salvador da pátria”, sua temporada vinha sendo de dor de cabeça no Real Madrid. Com exceção da conquista do Intercontinental, em dezembro, a equipe fracassou em todas as demais missões. E parte desses insucessos passa por ninguém menos que Raphinha, jogador que volta a vestir a Amarelinha hoje, contra o Paraguai, às 21h45, em São Paulo pelas Eliminatórias. Em grande fase, o atacante foi carrasco do técnico nos últimos jogos contra o Barcelona. Mas agora pode ser sua solução para confirmar a vaga na Copa do Mundo de 2026.
Tanto é que, mesmo avesso a revelar a escalação ou a forma de jogar da equipe, o italiano não fez mistério sobre a presença do atacante contra os paraguaios. E não escondeu a felicidade de poder contar com ele.
— Raphinha volta. É uma boa notícia para nós, porque ele mostrou, na última temporada, ser um dos melhores jogadores do momento no futebol. Vai nos ajudar muito. Precisamos jogar bem para nos aproximarmos da classificação, e a presença dele vai ser muito importante —disse o italiano.
Não ter Raphinha como adversário hoje já é motivo de alívio. O duelo será no dia em que Ancelotti completa 66 anos. Estivesse do outro lado, é bem possível que o atacante lhe desse um presente indesejável. Ou mais de um.
Nesta última temporada, Raphinha enfrentou Ancelotti em quatro clássicos espanhóis. Não só venceu todos, como marcou cinco gols e ainda deu duas assistências. Ou seja: teve participação direta em sete dos 16 gols sofridos pelo Real.
A temporada 2024/25 de Raphinha pelo Barcelona foi tão acima da média que fez seus números no confronto com o treinador explodirem. A dupla se enfrenta desde 2020, quando o atacante era do Leeds e o técnico, do Everton, na Inglaterra. Ao todo, foram 13 duelos com um de cada lado. O brasileiro saiu vencedor de oito. Ancelotti, de cinco. Curiosamente, nunca houve
um empate quando os dois estavam presentes. O atacante balançou as redes sete vezes e deu três passes para gols de companheiros.
Outro dado mostra o tamanho do alívio que é para Ancelotti ter Raphinha no seu time. De todos os brasileiros que já enfrentaram equipes dirigidas pelo italiano desde o início de sua carreira na função (pelo Reggiana-ITA, em 1995) nenhum marcou tantos gols quanto o atacante do Barcelona. O levantamento foi feito pelo site Bolavip Brasil.
À FRENTE DE NEYMAR
A lista conta com nomes de peso,mastodosabaixodeRaphinha.Osegundoquemaisbalançou as redes contra Ancelotti foi Adriano Imperador: cincovezes.GabrielJesusmarcou quatro. E o trio Neymar, Amoroso e Mancini vem em seguida, com três gols cada.
Com o agora ex-carrasco à disposição, Ancelotti espera deixar o ataque da seleção mais móvel. Após o empate sem gols com o Equador, na semana passada, o técnico avaliou ter faltado fluidez ao setor.Atéporisso,atendência équedêmaisliberdadeaoatacante e não o use como um ponta fixo pela direita — como fez com Estêvão, que deve dar lugar a Raphinha.
—O Paraguai é uma equipe muito sólida, muito bem organizada, que tem qualidades individuais importantes. O Raphinha tem uma mobilidade muito importante, é muito móvel. E isso pode ser uma chave para desbloquear a partida — analisou o treinador.
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(Rafael Oliveira)
Tempero italiano no futebol brasileiro: uma longa relação
Ancelotti na seleção é o capítulo mais recente da história dos dois países, que já teve fundação de clubes e revolução tática
Futebol brasileiro com tempero italiano. A receita da CBF para mudar os rumos da seleção pode até parecer diferente. Afinal, a Amarelinha não era comandada por um estrangeiro há 60 anos e o será pela primeira vez numa Copa. Mas a chegada de Carlo Ancelotti, que estreia hoje diante da torcida, não chega a ser uma guinada tão radical. Está mais para novo capítulo de uma relação antiga.
A história de Brasil e Itália no futebol vai além da rivalidade em Copas (cinco confrontos, sendo duas finais). Ao longo do século passado, a ligação entre os países gerou impactos significativos. Do lado de cá, a mais famosa dessas influências talvez seja a criação de Palmeiras e Cruzeiro.
O primeiro deles foi o time paulista, em 1914. Empolgada com a excursão do Torino-ITA e do ProVercelli-ITA ao Brasil naquele ano, a colônia italiana da cidade criou uma dezena de clubes. Mas foi o Palestra Itália o que mais aglutinou torcedores e se firmou.
Belo Horizonte também tinha clubes que aceitavam ou eram basicamente formados por desportistas italianos. Mas foi o Palestra Itália (sim, mesmo nome do “primo” paulista mais velho), criado por eles próprios em 1921, que se estabeleceu.
Em italiano, “Palestra” significa “academia” ou “escola de atividades físicas”. Em 1942, por pressão da sociedade, devido à associação direta que o nome fazia à Itália fascista, os clubes foram rebatizados como Palmeiras e Cruzeiro. E o resto virou história.
Só que a influência não parou aí. Após ver seu futebol se afundar ao longo dos anos 1970, a Itália autorizou a reabertura para jogadores estrangeiros. E os brasileiros foram um dos principais alvos.
Os anos 1980 foram, do lado de cá, de torcidas se despedindo de ídolos. Entre os que chegaram na Itália em busca de dinheiro e carreira internacional estão Paulo Roberto Falcão, Edinho, Toninho Cerezo, Zico, Junior, Sócrates, Branco, Casagrande, Careca, Dunga e Aldair.
Os italianos deixaram a “ressaca” dos anos 1970 para trás e viram seu futebol crescer tecnicamente com a contribuição estrangeira (que não se restringia aos brasileiros). Se de 1973 a 1982, os clubes locais não conseguiam chegar sequer à final da Liga dos Campeões, de 1983 a 1998, estiveram em 12, tendo vencido cinco. Os jogadores brasileiros também ganharam.
—O futebol brasileiro, naquela época, não era tático. Ele era técnico e inventivo. Muito jogo de intuição, jogada individual, tabela, dribles e tal —reflete Casagrande, que passou cinco temporadas e meia no país. —Quem ficou bastante tempo lá teve tempo suficiente para aprender a ser tático. E, quando a gente voltou para jogar aqui ou quando se reunia na seleção, já vinha com um senso tático melhor.
A seleção reflete bem essa mudança. Se nas Copas de 1982 e de 1986 a vocação ofensiva era nítida, a de 1994 trouxe uma organização defensiva (com escapes na frente) que acabou consagrada com o tetra.
—O Lazaroni, em 1990, fez a seleção com três zagueiros. Só que ele não tinha experiência suficiente para isso, e nenhum jogador brasileiro tinha. Mas foi um protótipo de um time mais tático do que intuitivo. Aí, em 1994, tinha Bebeto e Romário como intuição, e os outros oito eram táticos —conclui Casagrande. —Ali a tática entrou de vez no futebol brasileiro.
A ironia é que essa transformação rendeu um título sobre a Itália, que tinha Carlo Ancelotti como auxiliar. Agora, ele desembarca no Brasil para escrever um novo capítulo desta história.
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