POR UM BRASIL REAL
Com ex-clube como inspiração, mas peças diferentes, Ancelotti tem primeiro desafio
5 Jun 2025 - O Globo
RAFAEL OLIVEIRA rafael.oliveira@oglobo.com.br
Hoje, a espera chega ao fim. Quando a bola rolar para o jogo contra o Equador, às 20h (de Brasília), em Guayaquil, a era Ancelotti na seleção brasileira começa efetivamente. A expectativa é grande. Não pela classificação para a Copa do Mundo, meta quase concluída, dado o fato de que são seis vagas para dez seleções, mas pela evolução no futebol da equipe até o torneio.
Só a chegada do treinador recordista de títulos da Champions League (cinco) já seria suficiente para essa esperança. Mas o sentimento foi fortalecido quando o italiano revelou, em entrevistas recentes, que usará como referência o Real Madrid de 2023/24.
Somadas as duas passagens, Ancelotti esteve seis temporadas no Real. E escolheu justamente aquela que pode ser considerada a melhor equipe, com Vini e Rodrygo no ataque. Mas, para além de contar com os dois, de que forma ele pode espelhar, na seleção, aquele time campeão espanhol e da Champions no mesmo ano?
O ponto de partida é o que une as duas equipes: a ausência de um centroavante. Sem Benzema, Ancelotti transformou Vini e Rodrygo em dupla de ataque. Os dois deixaram de ficar presos nas pontas e ganharam liberdade para se movimentar entre os zagueiros. No grupo atual, sem Rodrygo (poupado para se recuperar física e mentalmente), o técnico pode fazer de Richarlison ou de Raphinha (suspenso hoje) o companheiro do camisa 7 na frente.
Ou até mesmo Estêvão, a quem rasgou elogios ontem.
— É um jogador com talento extraordinário, especial, muito jovem, que tem que aprender as coisas. Me parece um garoto humilde, com gana e personalidade. Mas sempre digo que, com os jovens, temos que ser um pouco cuidadosos e pacientes. Como ele tem que ser paciente —ressaltou.
COMO USAR AS PEÇAS
Importante destacar que aquele Real era versátil. Ora jogavano4-4-2,orano4-3-1-2 (uma variação do 4-3-3, outra opção para hoje). Na primeira formação, dois meias fechavam por trás dos atacantes pelos lados. Dos 25 convocados, Gerson e Andreas são os de perfil mais adequado. Mas o próprio Estêvão e Matheus Cunha, além de Raphinha, poderiam ser testados.
Já na segunda formatação, Bellingham era esse homem por trás da dupla de frente. Além de se aproximar dos atacantes, ele aparecia na área como um falso 9. Ontem, Ancelotti citou Gerson e Matheus Cunha como possíveis opções para atuar assim. Mas Raphinha e o próprio Estêvão também já desempenharam essa função em seus clubes.
A questão é que, naquele Real, Ancelotti contava com Kroos ou Modric mais recuados, distribuindo o jogo de trás. O Brasil não conta com um meia organizador. Os mais próximos seriam Paquetá e Neymar, fora da convocação. No grupo, Bruno Guimarães, Gerson e Andreas são os meias dos passes verticais.
Outro setor no qual o Brasil sofre carência são as laterais. Ancelotti usava dois homens bem abertos no Real. Na realidade brasileira, caberá a Alex Sandro e Vanderson a função. Mas o técnico já avisou que um deles pode não ser tão exigido ofensivamente:
— Se você tem um ponta com características muito ofensivas, não necessitamos que o lateral desse lado apoie.
Defensivamente, a fórmula do Real era pressão na perda de bola e, em caso de insucesso, recomposição imediata para um 4-4-2. Ancelotti já deu a entender que irá repetir o mesmo modelo:
— Seja no 4-3-3 ou no 44-2, o imprescindível é defendermos juntos —disse.
Escorregadio sobre time titular e estilo, Ancelotti é defensor de uma identidade variável. Logo, até pela discrepância no perfil dos jogadores, a proximidade com o Real pode estar mais na versatilidade. Com o passar dos meses, semelhanças e diferenças ficarão mais claras.
— Temos que ser uma equipe solidária, que compete, que luta e que trabalha junta —afirmou.
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